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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

UMA CRÔNICA LITERÁRIA...

MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM
Por Julio C. Gonçalves

Ao amigo Vicentônio Regis do Nascimento Silva, pelo seu grande amor pela leitura e literatura que é contagiante.

Nunca seus olhos brilharam tanto como desta vez. Parecia um troféu o panfleto que trazia nas mãos com pequena epígrafe de um autor que ele mesmo nunca ouvira falar... algo sobre a importância de se alimentar da leitura.
Embora soubesse que não tinha condições de dispender aquela quantia toda de uma vez, resolveu parcelar em seis vezes. Chegou até sentir um quase-arrependimento em ter se matriculado para as aulas particulares de gramática que há dois meses estava pagando para tentar recuperar-se de uns deslizes na prova do último bimestre. A honra de um homem não deve ser destruída pelo não cumprimento de sua palavra” - lembrara das palavras de seu pai que, no leito de morte, revelara seu último desejo: ter o único filho formado, com diploma e tudo. “Põe na parede, meu filho, põe na parede” – dizia o velho pai, referindo-se ao diploma da faculdade.
Todas as noites, de joelhos no chão, agradecia a Deus e mais uma legião de santos pela oportunidade que lhe fora dada: uma bolsa de estudos num desses programas de auxílio que o governo oferece para tantas faculdades particulares com intuito de proporcionar “faculdade para todos”.  
Letras. Cursava letras.
Inflou o peito e preparou bem a voz, desfazendo-se do pigarro, e concluiu com tom imperativo e audacioso: ”irei à Bienal do livro na capital”.
Juntava moedas antes destinadas ao hortelã fraco dos chicletes do buteco do Valtinho. Deixou também de voltar pra casa de ônibus para ver se sobrava um pouco mais. “Com certeza valeria a pena tamanho esforço” – pensava mais uma vez perdido entre seus devaneios. Passava horas pensando, confabulando... montava discursos e cenários imaginários, procurava no  guarda-roupas de sua mente qual troca lhe cairia melhor para o evento. Bem sabia ele que não podia ir de qualquer jeito; a ocasião pedia traje especial.
“E se fizer frio?” – pensou no instante seguinte. Seus poucos colegas do curso sempre comentavam sobre a baixa temperatura da capital nesta época do ano... Mas a flanela xadrez que herdara de seu pai o aqueceria - acreditava.
Pagou última parcela. O sonho ia, aos poucos, tornando-se mais próximo da realidade. A viagem estava marcada para o dia seguinte à noite. Queria descansar bem para aproveitar ao máximo o passeio, mas viu passar toda a noite no tic tac do relógio. É sempre assim, quando temos pressa as horas fazem pirraça. O dia pareceu demorar um dia inteiro para passar para só então chegar a noite.
Despediu-se da irmã mais velha que recomendou juízo. No ônibus adormeceu feito pedra. Também pudera... acordou apenas com o barulho da chuva batendo na janela embaçada e o anda-e-para do ônibus.
“Este é o primeiro ponto turístico de São Paulo: o engarrafamento” – brincou o colega do banco ao lado com ar de cerimoniário, referindo-se a uma das marginais paulistana. Mas mesmo assim tudo era novo, tudo era interessante.
Foram descendo um a um, se protegendo da fina garoa da manhã típica daqueles lados. Quase sentia na boca o coração, tamanha ansiedade. A professora com tom ainda pedagógico, dá os avisos e orientações, apontando para o gigantesco Anhembi.
Fila, crachá, balcão de informações, entradas...
A mesma voz que antes martelava sua cabeça para o desejo de conhecer a Bienal, agora só fazia agradecer e agradecer.
Entrou, enfim no salão do evento e, antes que desse tempo de seus colegas fazerem as honras de um anfitrião, num ataque de surpresa, tão logo soltou decepcionada indagação:
“Uma feira de livros???”

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O LIMITE DA LEI É O AMOR


Hoje (21/09) aconteceu algo que me levou a questionar sobre o surgimento e o uso das leis em nossa sociedade: Até onde vai o alcance da lei? O que um conjunto de leis indica?
Vamos aos fatos.
Tudo começou quando, pela manhã, vindo do hospital com minha esposa e filha (num daqueles dias em que pensamos: "não devia ter saído da cama hoje"), acidentalmente atropelei um motoqueiro. Eu estava fazendo uma rotatória e o "queridão" simplesmente não respeitou a preferencial. Bati em cheio com a frente do carro em toda a lateral da moto.
Vou dizer algo a vocês... atropelar alguém trás uma sensação muito pior do que a de bater um carro no outro (salvo as dimensões da gravidade do acidente). Lembro-me que, na hora, a única coisa racional e consciente que fiz foi ligar o pisca-alerta... depois disso operei por instinto e emoção.
Desci do carro e fui ver em que estado se encontrava o motoqueiro. Por muita sorte(?) a pouca velocidade em que eu estava fez o impacto não ser tão traumático, de modo que o encontrei se levantando (reclamando dor na perna), porém bastante lúcido para ouvir tudo o que disse (e que agora sou incapaz de repetir), diante do susto e da raiva, ainda que certo perante a lei. Saí com o sentimento de impotência face a imprudência dos outros.
Aliás, em se tratando de cuidado no trânsito, Presidente Prudente deveria se chamar "Presidente Imprudente" (sem nenhuma intenção de manchar a memória do tal presidente em questão), tamanha desordem e desrespeitosa atitude dos transeuntes prudentinos (isso para não falar de que estamos na Semana Nacional de Transito, onde devemos questionar mais sobre nossos hábitos cotidianos, seja no volante, seja enquanto pedestres).
Resumo da ópera, o acidente não foi fatal nem provocou maiores danos que o material, no entanto, não teve um só minuto no meu dia que não se repetia a cena do acidente em minha memória e com ela o sentimento de impotência.
No papel de questionador da realidade jurídica, tratei de problematizar algumas certezas muito presentes no imaginário coletivo acerca das leis e do direito. O que nos faz seres humanos tão dependentes das leis para nos sentir "bem ou mal" quando ela se aplica ou não?, isto é, por que precisamos das leis para nos sentir mais seguros, mais livres?
Dois textos que usei como base para as discussões com os alunos do curso de Comunicação Social na disciplina de Legislação e Ética, me vieram à mente na tentativa de responder tais indagações: "Ter ética é amar"¹ e "Excede a lei onde falta o amor"².
Dado o fato de que faz parte da natureza humana a imaturidade, a falibilidade e a fragilidade, tais características nos torna seres dependentes uns dos outros - reforçando a tese de Aristóteles quando afirma que  "o homem é um ser político" -, ou seja, não podemos fugir da vida em sociedade, da vida coletiva. Ora, sabemos que é na vida coletiva cotidiana que se manifestam nossas diferenças e as dificuldades de conviver com elas, o que gera os conflitos de ordem social.
As leis representam formas artificiais de assegurar, de garantir o bom convívio entre o homem e seus pares. Artificial porque significa que algo "supostamente tido como natural" não tem dado conta de garantir esse estado da convivência. 
Mas o que, afinal, seria esta característica "natural", porém falha?
Senhores, é a capacidade de amar... onde não há a tolerância advinda do amor, surge a lei como tentativa de garantir que o respeito e a dignidade prevaleça, porém, elas não asseguram, nem podem garantir que as pessoas se amem, se respeitem. O que demonstra, então, o montante de leis sendo aprovadas e na fila à espera de aprovação nos órgãos legisladores, diariamente? Mostra que ainda não aprendemos a amar!
Alfonsin diz que "o excesso de leis se deve à diminuição do amor". Entretanto, a quantidade de leis não significa mais paz entre as pessoas. "Nós criamos, no máximo, uma trégua, mas não justiça social. Fazem-se contratos entre as pessoas (de trabalho, de locação etc.), que mais ou menos acomodam seus respectivos egoísmos", diz. O amor ao outro, à vida do outro deve ser o parâmetro fundamental para todas as nossas ações cotidianas. Como devo agir diante do outro? deixa claro a questão central da ética, sobre os critérios que devem embasar nossa postura.
Portanto, gostaria de encerrar esta postagem e não a discussão, com uma frase bastante pertinente à essa reflexão, de Martin Luther King, a respeito da boa convivência humana:

"APRENDAMOS A VIVER JUNTOS COMO IRMÃOS, OU MORREREMOS TODOS JUNTOS COMO IDIOTAS".

Abraço a todos.

___________
¹ AGUIAR, Emerson Barros de. Ter ética é amar. Filosofia, Ciência & Vida, São Paulo, n.14, p.70-72, 2007.
² ALFONSIN, Jacques Távora. Excede a lei onde falta o amor. Mundo Jovem: um jornal de ideias, Porto Alegre, abr. 2006, n.365, Sociologia, p.02.


domingo, 19 de setembro de 2010

PROVA DE LEGISLAÇÃO E ÉTICA


Meus queridos...
Para a realização da prova  (clique aqui), segue algumas orientações. Vale lembrar que a prova deverá ser realizada em duplas, conforme previamente definido em sala de aula.
Espero que tenham um bom desempenho na elaboração desta e que, acima de tudo, reconheçam que o momento de avaliação também é um momento de aprendizagem.
Grande abraço a todos.

OBS: Segue um link com um texto: Artigo Científico de Revisão, que auxiliará quem encontrar dificuldade em  fazer um artigo científico.

Boa Prova a todos!!!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CONFISSÕES DE UM FILÓSOFO



- sobre a dor -

Nas grandes ausências do cotidiano ela se apresenta. Não escolhe os dias nublados, nem as manhãs de ressurreição. Sua presença é tão constante na experiência do viver como a brisa serena em uma doce tarde de verão. Não espera elogios, nem mesmo agradecimentos.
 Arthur Schopenhauer assim escreveu sobre ela: "Quem deseja. Quem vive deseja. A vida é dor". Até mesmo Sêneca se aventurou por suas veredas: "Uma dor nova nasce da própria dor”.
Nenhum pensador poderia apagar de minha alma a sua presença desagradável. Queria esquecer-me dela assim como a noite se esquece das trevas dando lugar à luz de um novo dia. Mas ela insistia em querer permanecer ali. Fizera sua morada em terras alheias. Tomara posse de um terreno que não lhe pertencia. Protestei, reinvidiquei meus direitos de proprietário. Lutei pela desocupação de terras. Tudo foi em vão. Só iria embora quando desejasse. Para mim não me restava outra alternativa, a não ser aprender a conviver com ela.
Foi sofrido nossa permanência num mesmo território chamado coração. Pedi muitas vezes que fosse embora. Chorei e implorei para que partisse. Sem nenhuma compaixão pelas minhas suplicas continuava ali. No mesmo lugar. Parecia feliz com o meu padecimento.
Aos poucos ia me definhando. Semelhante às folhas que precisam cair dos galhos de uma árvore para dar lugar a novas existências. Sentia que o inverno que havia chegado seria um dos mais rigorosos dos últimos tempos. Ansiava pela primavera de esperanças.
Éramos guerreiros lutando cada um por sua verdade. Ela de um lado, quieta e resistente; eu do outro, armado e atacando. Lados opostos, estratégias desiguais. Mar agitado e lua cheia, serena e bela.
Dentro de mim buscava razões para vencer uma guerra que não parecia ter fim. Foi buscando as armas da razão que poderia vencê-la que encontrei-me com C. S. Lewis. Ele me disse: "Deus sussurra e fala à consciência através do prazer, mas grita-lhe por meio da dor: a dor é o seu megafone para despertar um mundo adormecido".
A minha razão sempre fora o meu deus. E agora me vinha este tal C.S. Lewis falar-me que Deus gritava a minha consciência através da dor? Que loucura. Quando minha rival soube disso deu um leve sorriso. Este gesto inusitado de sua parte causou-me uma revolta ainda maior.
Mas cada vez que eu ia armado para um novo combate eu via o seu sorriso sereno. E cada vez ele me parecia mais doce. Tão doce como as maças vermelhas e suculentas que havia provado em minha infância.
E foi assim, olhando para o seu sorriso de possibilidades que foi se despertando dentro de minha alma um novo mundo. O deserto que nos separava começou a florescer aos poucos. O orvalho das manhãs frias ia aos poucos dando vida ao que já estava sepultado pelas longas lutas de uma guerra de incompreensões.
E foi assim que em uma manhã de sol, o frio daquela triste estação arrumou as malas e foi embora, dando lugar a primavera que estava chegando. Ela deu-me um abraço. E assim partiu. A primavera de uma nova existência chegou. O que a estação fria do inverno havia sepultado, a primavera da compreensão ressuscitou. Naquele novo jardim de possibilidades coloquei uma linda placa onde ainda hoje se pode ler: "Ninguém pode livrar os homens da dor, mas será bendito aquele que fizer renascer neles a coragem para a suportar" (Selma Lagerlof).

Flávio Sobreiro
Filósofo pela PUCCAMP, Teólogo pela FACAPA, Escritor, Poeta e colaborador do BLOG SOCIOLOGIA NO MUNDO.

domingo, 5 de setembro de 2010

EXISTE ÉTICA NA COMUNICAÇÃO?


Caros alunos do curso de Comunicação Social, na última aula de Legislação e Ética (31/08) deixei um texto para vocês que leva o título: EXISTE ÉTICA NA COMUNICAÇÃO? Para que nossa discussão na próxima aula seja mais participativa e dinâmica, e para que possamos discutir a respeito do texto, segue algumas questões que servirão de base para nossa reflexão.

1. Os meios de comunicação são espaços democráticos?
2. Deve haver censura nos conteúdos da programação?
3. É possível conciliar ética e lucro na comunicação?
4. O que é preciso para termos uma mídia mais ética?
5. Busque três exemplos de situações (propagandas, ou programas, ou matérias), que desrespeitaram a ética.

Boa pesquisa e bom feriado a todos e todas!

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